Tempo de tela
13:15Hoje acordei e, como parte da rotina, a primeira coisa que fiz foi pegar o celular para ver as notícias. Deslizei a tela entre notas sobre p...
Hoje acordei e, como parte da rotina, a primeira coisa que fiz foi pegar o celular para ver as notícias. Deslizei a tela entre notas sobre política, chuvas na região sudeste, alguma coisa sobre o impacto ambiental de dois grandes empreendimentos imobiliários que vão sombrear uma famosa praia da cidade, uma adolescente manauara que aplicava golpes vendendo Iphone por 100 reais. Essas coisas...
Eu não li, mas uma pessoa me contou, que Turreau dizia que as notícias são sempre as mesmas. Que basta você ter lido o jornal uma única vez na vida e todo o resto é repetição. Fiquei curiosa com as ideias dele e o adicionei a minha infinita lista de leitura.
Em meio as manchetes do jornal virtual, as notificações saltavam na parte superior da tela. Mensagens no whatsapp business, email sobre alguma oferta sempre imperdível, Duolingo me dizendo que perdi uma posição no ranking e toda uma série de urgências não urgentes. Alí, despretensiosa, em meio a todo aquele mar de coisas que se dão mais importância do que realmente tem, estava a tímida notificação de relatório de uso semanal do celular.
Nada de apocalipse climático, possibilidade de guerras ou coisas do tipo. O que me pegou mesmo foi a minha média diária de 7h na frente do celular. Isso sim parece alarmante, urgente e me trouxe profundas reflexões logo de manhã. Pensei em como isso está relacionado a minha saúde física e mental, a minha disponibilidade para executar outras tarefas como voltar a escreve e, claro, à minha lista de leituras cada vez mais atolada.
Sim, a lista infinita de leituras, sempre interrompida por "vai lá, dá uma olhadinha no Instagram...", ou ainda " pesquisa la no google por onde anda aquele ator?" Uma lista infinita de distrações inúteis que parecem ter como único objetivo nos jogar de volta para frente do celular.
O celular é uma janela para o mundo. Uma janela supostamente segura, já que posso ir do centro de São Paulo, à uma zona de mata na região metropolitana da minha cidade, sem correr nenhum risco. Quem vive em cidade grande sabe do que eu digo. Quem vive em uma cidade com índices de violência urbana altos, sabem mais ainda. O celular se transforma em uma opção segura pra continuar vivendo. Afinal, sair pra dar uma volta no fim de tarde, pode custar caro, pode custar o próprio celular ou até mesmo a vida. Melhor ficar em casa vendo memes. Esse é o pensamento. Essa é a nossa perdição.
Fiquei ali pensando em tudo isso logo nas primeiras horas do dia. Nos altos índices de TDHA que talvez não seja mais do que a pregnância desse aparelho em nossas vidas. Nossas memórias de peixinhos dourados (que dizem que carece de comprovação científica, mas ainda serve como analogia). Pensei muitas coisas e corri pra escrever esse texto, que teria uma conclusão legal, mas que no final das contas, eu esqueci qual seria.